Foi mesmo da noite para o dia. Com o avanço do coronavírus no mundo e a adoção de medidas restritivas pelos governos, as principais e mais lotadas avenidas ficaram vazias.

Ao invés do barulho rotineiro de buzinas, escapamentos e das pessoas apressadas para chegar ao trabalho, o que se ouviu nesses pontos de grande movimentação, durante a quarentena, foi o silêncio.

No entanto, com o início do relaxamento das restrições e com a volta gradual do comércio, lugares que pareciam desabitados começaram novamente a receber as pessoas que, com medo do contágio pelo vírus, adotaram novos hábitos.

Transito ponte engarrafamento de carros
Durante a quarentena, tornaram-se raras as cenas de congestionamento e as mais importantes avenidas do mundo ficaram vazias. 

Além disso, cidades ao redor do mundo passaram a repensar suas políticas de mobilidade urbana para evitar o aumento do número de contaminações.

A ampliação de ciclovias, a reprogramação de semáforos, a reestruturação do transporte público e a valorização de calçadas são algumas das medidas adotadas. O que antes era muito mais experimental, parece agora ser base para reformas permanentes em lugares como Berlim, Boston, Bruxelas, Cidade do México e Paris.

Por outro lado, de acordo com uma pesquisa do Instituto Capgemini publicada pelo Jornal do Carro, pessoas que não pensavam em ter um carro próprio passam a enxergar no veículo pessoal uma maneira de se protegerem ao vírus.

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Para tentar entender esse cenário e como a mobilidade urbana será afetada pela pandemia do coronavírus, a equipe do blog do Zul Digital conversou com Anderson Penha, fundador do coletivo Contra Fluxo e professor de design experimental e estudo do futuro no Istituto Europeo di Design (IED), e Lucas Girard, urbanista, pesquisador em cidades inteligentes pela Universidade de São Paulo e consultor em políticas públicas.

Além das ruas vazias, algumas regras relacionadas ao trânsito mudaram com a pandemia. Acesse nosso blogpost completo sobre o assunto e descubra quais procedimentos relacionados trânsito tiveram que ser alterados devido ao coronavírus.

Interesse em carro próprio aumenta

A pesquisa realizada pelo Instituto Capgemini aponta para uma nova tendência no mundo pós-quarentena: há maior interesse das pessoas nos carros próprios. De acordo com o estudo que envolveu 11 países e 11 mil pessoas, 35% dos entrevistados consideram comprar um veículo novo ainda em 2020.

Em países muito afetados pelo coronavírus, esse número é ainda maior. Na China, 61% dos participantes da pesquisa confirmam o interesse em adquirir um carro. Já na Itália, 43% das pessoas que responderam ao levantamento têm interesse no veículo próprio. O Brasil não participou do levantamento.

Outro ponto também revelado pela pesquisa é o maior interesse dos jovens na posse de um carro pessoal. Dos entrevistados entre 18 e 24 anos que afirmaram interesse em um carro pessoal, 85% pretendem comprar um auto pela primeira vez.

O aumento do interesse pode ser justificado pela maior sensação de segurança oferecida pelo veículo.

De acordo com o Instituto Capgemini, esse resultado revela uma reversão histórica já que os mais jovens demonstravam falta de interesse em um automóvel próprio devido aos aplicativos de transporte.

Segundo Anderson Penha, a revelação do aumento do interesse no carro próprio não surpreende, ainda mais em cidades que sofrem com problemas de infraestrutura durante a pandemia do covid-19.

“Percebemos que os longos deslocamentos continuarão e não temos sistema estrutural para lidar com isso. Como o transporte público ainda não deu uma resposta convincente quanto à biossegurança, vamos apelar para nossas bolhas”, diz Penha.

O professor de design experimental e pesquisador em mobilidade ressalta ainda que a compra de um veículo novo é uma alternativa apenas para uma parcela da população que tem condição de arcar com esse custo. “Há um público que não terá essa saída tão fácil”, conclui.

Já de acordo com Lucas Girard, é preciso entender quem são essas pessoas que precisam se deslocar durante a pandemia e como o home-office afetará os deslocamentos de uma cidade.

“Por que as pessoas se deslocam? Quem são esses profissionais que estão cogitando comprar carro?  Não vejo isso como uma tendência nos grandes centros urbanos. Pode ser que isso seja agora no meio da pandemia, mas depois que percebermos as mudanças nas relações de trabalho, poderemos dizer se será mesmo uma tendência”, afirma o pesquisador.

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Micromobilidade: experiências viram reformas permanentes

Embora tenha sido sempre encarada como uma política experimental, a micromobilidade parece comandar reformas permanentes no trânsito de diversas cidades do mundo com o fim da quarentena.

De acordo com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP),  a micromobilidade pode ser definida como deslocamento em pequenas distâncias (até 10 km) através de veículos leves, como bicicletas, patinetes, triciclos e skates.

Segundo publicações da Bloomberg e da DW, na Europa, o uso de meios alternativos de transporte já era incentivado antes da pandemia. No entanto, o fechamento de ruas para automóveis, a redução das faixas de trânsito e a diminuição dos limites de velocidades podem se tornar tendências nos grandes centros urbanos europeus.

Ciclistas em Paris, França, após flexibilização da cidade em maio.

Segundo Anderson Penha e Lucas Girard, a pandemia apenas acelerou a implantação de medidas de mobilidade que já vinham sendo estudadas. O melhor exemplo é Paris, cidade que a prefeita Anne Hidalgo pretende estruturar o espaço urbana para que cada cidadão consiga resolver qualquer assunto pessoal num raio de até 15 minutos de deslocamento de sua casa.

“Os organismos internacionais estão tentando implementar sistemas mais eficientes de deslocamento que não sejam baseados na posse individual de um veículo, buscando diminuir a pegada ambiental, viagens desnecessárias e racionalizar o uso do automóvel”, explica o urbanista Girard.

No entanto, os pesquisadores concordam que é complicado comparar a realidade europeia com os municípios brasileiros.

“Eles estão em um patamar civilizatório e de maturidade de discussão urbana muito diferente da gente. As cidades europeias são menores, com populações menores, a escolaridade dos cidadãos é maior e lá você tem uma rede de transporte público e de proteção social muito mais eficientes”, esclarece Girard.

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Carros cada vez menores

O impacto socioambiental causado pelo o carro é hoje um dos grandes desafios a ser superado pela indústria automobilística. Além do custo de comprar e manter o veículo, o automóvel também provoca implicações para a coletividade de uma cidade, de acordo com Lucas Girard.

Já Anderson Penha alega que as montadoras continuam focadas na produção de veículos para transporte, com automóveis grandes e de alto consumo de energia. Para o professor de design e estudo do futuro, esse modelo pode se transformar após a pandemia com a entrada de veículos cada vez menores e mais sustentáveis.

“Hoje, a maioria dos carros transporta uma única pessoa. A gente não tem carros pensados para a mobilidade individual. Se a gente pegar região do ABC Paulista com as indústrias automobilísticas, temos um grande potencial, mas parece que as empresas não o enxergam”, afirma Penha.

Lucas Girard acrescenta ser também necessário o maior compromisso das fabricantes com a disponibilização de opções mais ecológicas. “Se a gente for buscar novamente um modelo baseado no transporte individual sobre pneus ele deve ser elétrico”, conclui.

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A importância das calçadas para os deslocamentos

Outro elemento que ganha relevância no debate sobre a mobilidade urbana durante a pandemia são as calçadas. São através delas que as pessoas se deslocam e têm acesso a restaurantes, supermercados, lojas, farmácias e outros tipos de comércio.

Porém, com o medo pelo contágio do coronavírus, as pessoas ainda não se sentem confortáveis nelas já que não estão estruturadas para o convívio em plena pandemia.

Em Nova Iorque, a urbanista Meli Harvey desenvolveu um mapa que mostra em quais calçadas da cidade uma pessoa consegue manter uma distância segura de outra enquanto caminha.

Através de dados disponibilizados pela prefeitura, Meli calculou a largura das calçadas para destacar as áreas onde é possível manter o distanciamento de 2 metros recomendado pelas autoridade de saúde (confira o mapa aqui).

O resultado revela quão estreita são as calçadas de Nova Iorque. O mapa mostra a falta de espaço suficiente para duas pessoas caminharem com uma distância de seis passos entre elas.

Pessoas caminham em calçada de Nova Iorque em junho de 2020 após reabertura.

Em entrevista ao portal ArchDaily, Meli Harvey afirmou que espera que seu projeto sirva para a reflexão sobre as práticas de planejamento urbano do último século.

“Quando a pandemia teve início, de repente as regras que governam a maneira como as pessoas interagem no espaço público foram viradas de cabeça para baixo. Todos se tornaram conscientes de como as qualidades da rua afetavam sua capacidade de manter a distância social”, disse Meli Harvey.

Confira nosso blogpost com 10 iniciativas incríveis de mobilidade urbana no Brasil e no mundo que são exemplos de políticas cidadãs.

Nova racionalidade sobre o deslocamento

Lucas Girard acredita na possibilidade de uma nova racionalidade sobre o deslocamento. De acordo com o pesquisador em cidades inteligentes pela USP, com a pandemia, as pessoas podem passar a refletir melhor acerca da a necessidade do deslocamento e do ato de sair de casa.

“É muito difícil enxergar tendências agora. Talvez, a gente saia de um uso muito banal do meio de transporte e comece a entender o deslocamento como uma viagem, em que se exige todo um preparativo, planejamento e cuidados. Do tipo de pensar 10 vezes antes de sair na rua”, observa Girard.

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