O debate sobre mobilidade urbana no Brasil ganha cada vez mais espaço dentro da esfera pública graças ao problemático cenário vivido nas grandes cidades. O trânsito e a falta de conexão entre diferentes modais de transporte aparecem como as principais queixas dos cidadãos, que anseiam por soluções práticas e ágeis para o seu dia-a-dia.

Dada a importância, a busca por solucionar os desafios dos deslocamentos urbanos aparece como tema fundamental e a discussão chega a envolver diversas camadas da sociedade, inclusive a estudantil.

Com o objetivo de fomentar o debate sobre mobilidade urbana e preparar estudantes do ensino médio para um possível tema da redação do Enem, o Zul Digital elaborou um concurso de redações em parceria com as professoras Fernanda Ferreira dos Santos e Júlia Kodato, do Colégio Palmares, com o tema “Os desafios da mobilidade urbana”.

As três melhores redações produzidas por alunos do 3° ano do Ensino Médio do Colégio Palmares foram premiadas e selecionadas para serem publicadas no blog do Zul Digital.

Aqui, você poderá conferir o texto produzido pelo estudante Victor Mario Bertini, uma das redações vencedoras do projeto “Desafios da mobilidade urbana”.


Apesar do avanço tecnológico nos meios de transporte, a mobilidade urbana persiste problemática, desde ônibus com péssima qualidade até descaso com projetos de reforma infraestrutural. Defeitos como esses são consequências da postura do governo sobre o assunto, fraca, postergadora, além dos interesses monetários por parte das iniciativas privadas, visando ao lucro obtido sobre o problema e não às possíveis soluções.

Em primeiro lugar, a maneira como o Governo Federal lida com a situação abre muito espaço para os Governos Estaduais negligenciarem projetos de reforma urbana. Leis como a 12.587, que exigem projetos de mobilidade para municípios com mais de 20 mil habitantes, foram ignoradas, com uma adesão de 6%, representando nenhum avanço em prol da melhora à mobilidade urbana e sem nenhuma atitude tomada pelo Governo Federal em meio a esses dados. Essas negligências, por parte dos Governos Estaduais e Federal, são resultado de uma ausência de retorno financeiro significativo nessas reformas, o que, sobre o contexto de corrupção e cortes de gastos,  leva-os a abandonar e ignorar projetos de mobilidade urbana, assim como o recente ocorrido em São Paulo, que, com o fim do seu patrocínio (retorno financeiro), suspenderam a ciclofaixa do lazer.

Em segundo lugar, o setor privado monopoliza as alternativas de mobilidade não públicas, por meio de seus vários aplicativos, nunca visando a solucionar os problemas desse setor. Aplicativos como o Unpark, que facilitam a procura por vagas de estacionamento, não estão interessados em solucionar o problema de insuficiência de vagas, o Waze não está interessado em resolver os problemas de trânsito urbano, apenas em oferecer uma alternativa de rotas, atraindo o cidadão, assim, lucrando. O fato de que esses aplicativos monopolizam o setor de mobilidade não ajuda, dando ao cidadão que o utiliza um falso alívio aos problemas desse setor, o que leva a uma população menos insatisfeita, e, assim, a um governo menos incentivado a atender a essa insatisfação.

Portanto, os atuais problemas da mobilidade urbana estão relacionadas aos desinteresses por parte do governo, que se encontra com pouco dinheiro para investir com uma reforma de pouco retorno financeiro, e do setor privado, que não vê o lucro em solucionar os defeitos da mobilidade urbana, como o transporte público, o trânsito e a superlotação de carros. Existe apenas uma alternativa para solucionar esses problemas, uma forte reestruturação do plano do Governo Federal, por parte dos poderes executivo e legislativo, re-organizando o orçamento para esse setor e sendo mais exigente sob os os estados, não permitindo ocorridos como o da lei 12.587, tudo isso de forma independentemente do setor privado.


Confira também as outras redações premiadas: “Transporte sem destino” e “A deficiência da mobilidade brasileira”.